...o Maestro...13 de Abril de 1936

Maestro Joaquim dos Santos - Roma, 2006"Frequentou os seminários arquidiocesanos de Braga, onde iniciou os estudos musicais, que desenvolveu sobretudo sob orientação de Manuel Faria. Do seu principal mestre recebeu os primeiros impulsos para a composição musical, de que resultaram algumas obras, ainda como estudante; mas desse contacto resultou, sobretudo, o gosto pela composição, que implicou a exploração de novos caminhos musicais, mesmo se bastante distintos do mestre.

Ordenado presbítero e após breve passagem pelo Conservatório de Música de Braga, prosseguiu, a partir de 1963, os estudos em Roma, no Pontifício Instituto de Música Sacra, como bolseiro do Estado Italiano e da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1965 foi premiado pelas suas composições, que foram executadas em concerto.
Durante a sua estadia em Roma, fez ainda o curso de direcção e interpretação polifónica no Conservatório de Santa Cecília.

Regressado a Portugal, levou uma existência simples, entre a leccionação musical a vários níveis e, sobretudo, à composição. Por temperamento avesso a todo o tipo de protagonismo, durante a sua vida foi algo ignorado pelos seus compatriotas. Por outro lado, o seu estilo absolutamente oposto a qualquer género de exibicionismo ou snobismo contrastava com o seu entusiasmo pelas inovações musicais, sobretudo do séc. XX. Isso permitiu-lhe juntar, na sua vasta obra, trechos de enorme simplicidade e profunda raiz popular com partituras elaboradas, ao nível da melhor produção musical contemporânea.

Das suas criações de maior vulto destaca-se um bom número de obras corais sinfónicas (Passio et mors D.N.J.C secundum Lucam, o oratório Travessia, as cantatas Le Forme dello Spirito, Sonho do Infante, Noiva do Marão, Santo António dos Portugueses, vários Stabat Mater, vários Te Deum, orquestração da Missa em honra de N.S de Fátima de Manuel Faria, etc.) assim como não menos significativo conjunto de obras de câmara (algumas com recurso a instrumentos como marimba, bandolim, bandocelo, etc). É também abundantíssima a sua produção coral, desde simples harmonizações de canções populares, passando por trechos litúrgicos de vários níveis de exigência, até grandes obras para coro, com acentuado poder descritivo e arrojadas soluções, que revelam considerável maturidade no conhecimento e no domínio da técnica vocal específica, para além de uma capacidade expressiva extraordinária, com recursos relativamente simples.


Do conjunto inabarcável da sua produção musical poderia destacar-se o tratamento da orquestra (desde concertos para violoncelo (2), violino, flauta, clarinete, piano e até dois pianos e orquestra), que demonstra de forma suprema na sinfonia “Roma Eterna”. Possivelmente por ter crescido numa família em que o som da flauta acompanhava o dia-a-dia; talvez por essa infância ter decorrido num dos recantos mais bucólicos do Minho; talvez também pelas influências musicais de outros compositores (com saliência para Stravinsky), é especialmente exemplar o seu tratamento dos sopros. Por um lado, salienta-se a mestria com que introduz e combina os metais, que demonstra uma convivência de décadas, através da prática de direcção de bandas; por outro lado, sobressai sobretudo a beleza bucólica e simultaneamente arrojada com que joga com as madeiras, em continuação pessoal e inovadora de passagens típicas de Stravinsky. Ritmicamente, para além do compositor russo, é clara a influência de Britten, que também deixou a sua marca em certa predilecção pela percussão.

Em obras coesas, perfeitamente unitárias e completas, consegue um estilo que acolhe, sem preconceitos nem discriminações, os contributos de diversas fases da história da música. Desde o gregoriano aos nossos dias, sem a falsidade da mera citação, mas também sem estéreis subjugações a escolas ou estilos rígidos. De forma singelamente pessoal e única, deixando para trás academismos de todo o género, antecipou e prosseguiu, numa coerência rara, uma espécie de «pós-modernidade» musical, muito para além de qualquer modernidade forçada ou de qualquer classicismo anacrónico. É, pelo contrário, a simplicidade do seu pensamento musical que determina os recursos a utilizar, resultando disso obras claramente contemporâneas e, simultaneamente, naturais, evidentes, por isso acessíveis ao público com um mínimo de sensibilidade musical."


por Professor João Duque

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