Exposição | Obras de Joaquim dos Santos com Textos de Autores Portugueses
A relação da palavra com a música, muito estreita ao longo de toda a história, é também retratada na obra de Joaquim dos Santos.
Nos seus 5 Poemas de Miguel Torga, para coro a quatro vozes mistas e dedicados à Capella Bracarensis, esta relação é perfeita. Para salientar o que foi dito, cita-se a nota do autor na partitura: Que estas páginas, onde o inesperado sonoro ou rítmico, com suas imagens e emoções vai acontecendo, emoldurando em dramatismo e encantamento, sejam um verso perfeito. Que traz consigo a força do que diz»…
Na sua obra Vem, para coro feminino e órgão (mais tarde orquestra), escrita por altura do centenário da morte de Ana Plácido, Joaquim dos Santos coloca em música as palavras da poetisa:
Vem luz pura, luz divina
Anseio, chamo por ti;
Para o eco me ressuscita
Que eu para o mundo morri.
(9 de Março de 1860)
Apresentada em duas versões, a primeira para duas ou três vozes e a segunda para três ou quatro vozes, emerge a linguagem contrastante e expressiva de romantismo e atonalidade, tratando-se de autêntica música religiosa na qual os gritos de angustia são abafados pelos da fé e da esperança.
Sobre a temática de Fernando Pessoa, um autor de vulto no panorama literário português, Joaquim dos Santos compôs Nocturno, para voz recitante, flauta e piano, uma obra onde os acidentes adjectivam a frase e as agressivas dissonâncias incitam a meditação e o drama, a melancolia, o sonho e a saudade como o profundo, escuro e distante murmúrio de infinito e salgado mar….
Sobre um poema musical de um poema de Castro Gil, O Sonho de um Castelo é uma leitura profundamente pessoal do compositor, dedicada ao autor do poema, Amadeu Torres (Castro Gil). Esta música não é descrição, retrato ou pintura que eu fiz, mas antes um registo sonoro das ideias, imagens e impressões que a mesma poesia despertou em mim e me impeliu a escrever estas notas.
Ana Rita Campos e Sónia Marques, alunas do 2º ano da Licenciatura em Música.