Concerto per Baritono, Flauto a becco ed Organo

Quatro Canções, para barítono e órgão 


1. Pomba da Paz
2.
Doação 3. Variações sobre um velho tema
4. Jesus do Monte





Edição do Instituto de Santo António dos Portugueses em Roma CD200810
Gravado ao vivo no dia 16 de Outubro de 2004 na igreja nacional de Santo António dos Portugueses



José Carlos de Miranda, barítono
Giampaolo di Rosa, órgão


1. POMBA DA PAZ

Do lado do mar, 
Esvoaçando sobre as ondas,
Pomba Branca anuncia
VIDA NOVA

Mais além no horizonte
Centelhas de luz
Escrevem o poema
"ESPERANÇA"

Descida do céu
Doirada, em papel branco,
A PROFECIA DE UM TEMPO NOVO

"Destruirei o coração de pedra,
e dar-lhes-ei
um coração cheio de amor!

Apagarei a 'glória'
Dos vestidos da moda,
E dar-lhes-ei
A 'veste branca'
Do Reino de Deus!

Não habitarei
As trevas da solidão
E da discórdia;
A Casa Universal
A Igreja de Cristo
Será a MORADA NOVA
Da Pomba da Paz!"

(José S. Lima, 1983)


2. DOAÇÃO 

Senhor! Cá vou de rastos golpeado
A segredar às pedras meus soluços.
Que Te veja, porém, sempre a meu lado
Quando, sem forças, cair de bruços. 

E se quiseres, Senhor, que vá assim,
- Mesmo sozinho sem ter cireneu:
Quero deixar marcada atrás de mim,
Num veio de sangue, a pista do Céu!

(Porto Soares) 


3. VARIAÇÃO SOBRE UM VELHO TEMA

A mão da Sombra ungiu-me as pálpebras cansadas:
Senti roçar em mim seus dedos de veludo
Tão leves como a brisa que acalenta as madrugadas,
Tão suaves como o bafo do mistério que anda em tudo.

A mão da Sombra encheu de névoa os meus ouvidos:
E, como taça de cristal que se quebrou,
Ouvi as notas finais de cristais partidos
Golpeando o silêncio vago que ficou.

A mão da Sombra fez-se concha ante meus lábios quedos:
E eu tive que beber a noite num só hausto,
Aquela noite imensa de que a dor é o fausto
E o silêncio o altar da adoração dos medos.

A mão da Sombra encarcerou-me tantas coisas belas!
A treva do princípio quase afoga os sonhos meus...

...- E é nesta noite assim que eu vejo mais estrelas,
Oh mão da Sombra!, oh mão do Amor!, oh mão de Deus!

(Castro Gil, 1948)


5. BOM JESUS DO MONTE

Turíbulo da noite, em ritmos vagos,
A Lua anda num céu que doira e incensa.
O ar rescende a nardo e a seiva imensa
Da floresta espelhando-se nos lagos.

Madeixas de irreal, mornos afagos
Descem da ramaria absorta, densa.
E o silêncio é uma catedral suspensa
De Fé que ali sorveu a longos tragos.

Êxtase. Paz. Mistério. A aragem calma
Em cada sombra esperta um sonho e uma alma
Que embriagam as almas de ideais...

Um convento sem celas e sem monges,
Parecendo guardar do olhar dos longes
Santo Graal das gestas medievais. 

(Castro Gil, 1951)


(Fazem parte do CD outras obras dos compositores: B. Selma Y Salaverde [1570 – 1638]; N. Giles [1558 – 1634]; S. Leopold Weiss [1686 – 1750]; G. di Rosa [1972]; J.S. Bach [1685 – 1750]; G. P. Telemann [1681 – 1767]. Estas obras são para canto, flauta de bisel e órgão.)

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